Quando vier a mulher da fava-rica

Ou seja: daqui a muito, muito tempo, quanto não se sabe. É nestas circunstâncias que estamos à custa de confinamentos, incertezas e outros constrangimentos. O dito aplica-se a todas as circunstâncias da vida. Na saúde: quando acaba a pandemia? Acabará, quando vier a mulher da fava-rica. Na economia: quando acabará esta crise? Acabará, quando vier a mulher da fava-rica. Na política: quando aparece um político honesto, democrata? Aparecerá, quando vier a mulher da fava-rica. No ambiente doméstico: ó mãe, será que volto a ir para a escola? Irás, quando vier a mulher da fava-rica. Ou assim: ó mulher, quando é que eu como umas grossas postas de bacalhau à lagareiro? Comerás, quando vier a mulher da fava-rica.
A mulher da fava-rica era personagem habitual da velha Lisboa, por ela esperavam os trabalhadores que saltavam da cama ainda de noite, esperando por aquela mulher para não pegarem no batente em jejum. Naquele tempo não esperavam tanto tempo assim, agora se alguém for esperar por ela, é melhor se deitar, e mesmo assim cria raízes.
Quanto à fava-rica em si é uma espécie de sopa, ou um prato de favas secas, que se puseram de molho no dia anterior e se temperam com azeite e alho picado, quem gostar, bota coentros. Ao preço a que este ano devem estar as favas, com a crise que por aí anda, muitos devem dizer: Quando é que eu como fava-rica? Comerás, quando vier a mulher da fava-rica.
Mundo justo, políticos honestos, banqueiros menos gananciosos, patrões menos forretas, fim do recolher obrigatório, fim do uso de máscara, gaiatos na escola… É tudo para quando vier a mulher da fava-rica. Só nos apetece mesmo ouvir o velho pregão: Faaaaaava-riiiica! Já não se ouve. Quanto àss favas estão pobres e mais pobres ainda estão os compradores das favas.
Leonor Fernandes, autora Grupo Privado Sociedade Justa

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