Haja tento na língua, ou no postigo!

Isto é daquelas coisas que não sei se diga, ou se fique calada. Pelo lado politicamente correcto devia ficar calada, mas por outro lado… Então, digo: Haja tento na língua. Qual língua? Do governo, da comunicação social. Desconfinar tudo bem, mas com tento na língua. Desde ontem que, segundo governo, está autorizado atender clientes ao postigo, o que pressupõe a existência de negócios de postigo, que mais não é que uma meia porta. O pior é a expressão “Negócios ao Postigo”.
No século XIX, quando a Severa andava pela Mouraria, a prostituição era negócio do postigo, ou da meia porta. Se o postigo estivesse aberto, aguardava cliente, mas se estivesse fechado, estava ocupado. Eram os famosos postigos, as meias portas, da Mouraria, de Alfama e outros lugares por esse país. Eram túrdias e balbúrdias. Clientes sem máscara, mas arredios, colados às paredes, ainda assim não fossem vistos.
Meu Deus, ao ponto a que chegámos! O Covid até tornou negócios honestos em negócios do postigo, como se fossem negócios de putas. Mas talvez isto tenha alguma lógica, já que o Estado sempre foi um grande proxeneta. Mas pronto, em nome do politicamente correcto, que hoje tanto se recomenda, haja tento na língua. Srs governantes, Srs jornalistas, não há necessidade de ofender.
Digam, por exemplo, assim: está autorizado atender clientes ao guichet.
Dizendo guichet, isto fica mais ou menos parecido com uma repartição da Tesouraria das Finanças, que sempre recebeu dinheiro ao postigo. Credo, ao guichet. Não há necessidade de ofender.
Leonor Fernandes, autora em Grupo Privado Sociedade Justa

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