Ir à praia e apanhar 39 multas. Aconteceu mesmo!

O sol nasceu para todos e também para as crianças confiadas ao Centro Social e Paroquial de Penamaior, em Paços de Ferreira. Era dia de praia e o entusiasmo invadia a alma dos irrequietos passageiros, entregues pelos pais à confiança, de sempre,da auxiliar da instituição.

A camioneta, essa, chegou a horas e era grande aos olhos de quem nela entrava e via o senhor condutor no seu posto de comando. Sentados, acalmados, fecharam-se as portas, e boa vai ela (a camioneta) rumo à praia na busca do sol e água salgada.

Desceram a serra da Agrela e eis que a camioneta parou. Não era avaria: o senhor motorista respeitava uma ordem de stop feita por um agente da PSP munido que estava da autoridade de mandar parar aquela camioneta que não outras que na mesma rua passava.

Mas o senhor agente não queria falar com o dono do volante. Antes preferiu perguntar pelo “responsável” do transporte que – ficou-se a saber – era a auxiliar do Centro Paroquial.

Palavras para aqui e para acolá, “isto” não podia acontecer, pois as crianças viajavam sem cadeira adequada à idade e ao tamanho. No fim do plenário ao ar livre, lá referiu o senhor agente que teria de passar o “auto”.

No mesmo ficariam plasmadas 39 multas, uma por cada utente, e estas, as multas, seriam passadas à auxiliar e não à instituição nem às crianças, nem ao senhor condutor, nem à empresa que garantia o transporte “em segurança”.

Ordens são ordens, ainda mais se explicadas por um senhor agente da polícia, em Portugal. Que se esqueceu, ou decidiu abreviar a função, de medir as crianças – sim o tamanho – o peso de cada um – sim, o peso também é necessário avaliar – de acordo com a legislação que emanada do Estado permite sacar em poucos minutos uma fortuna aos cofres da instituição. Pois claro que da instituição, pensou a auxiliar!

Como as crianças estavam desejosas de chegar à praia e talvez porque o senhor agente já experimentou ser pai, decidiu ele que a viagem podia prosseguir e que, solícito, entregaria o auto disponibilizando-se a lá se deslocar.

Já corriam e festejavam a chuva de areia molhada pela água azul, quando o senhor agente chegou. Entregou o auto à auxiliar que ficou a saber que ela mesma era a autuada, por 39 (trinta e nove, isso mesmo) infracções, acrescida da possibilidade de ficar inibida de conduzir.

O dia correu bem. As crianças regressaram a Penamaior e lá contaram aos pais o dia fenomenal que tiveram. O senhor condutor, tranquilo, terminou mais um serviço e levou a camioneta para casa do patrão e dormiu descansado o sono dos justos alimentado pelo dever cumprido.

Contudo a auxiliar do Centro Paroquial sentia as mãos muito quentes, pois trazia o auto consigo para entregar à Direcção que ficou a fazer as contas: esta coisa de multiplicar o valor de cada multa por 39 dá uma fortuna, e onde vamos arranjar o dinheiro?

Depois de uma conversas, lá se decidiu que o melhor era ler o auto e ver o que se podia fazer. E assim foi. A direcção partilhou o sucedido com o advogado da UDIPSS Porto e lá se desenhou uma contestação, entregue a tempo.

Ainda não passou tempo suficiente para se saber o destino e o efeito da reacção da instituição. Mas estamos em crer que a mesma vai nadar nas águas da praia.

 

 

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