Para onde caminha o Parlamento português?

As eleições de 6 de Outubro ofereceram aos portugueses um parlamento mais plural com a abertura deste ao Livre, Iniciativa Liberal e Chega. Cristalizaram-se os resultados dos partidos do centro (PS e PSD) e tudo indica que no futuro, em consequência do acesso à comunidade mediática, os novos membros da AR cresçam nos próximos anos, como se verificou com o PAN. Em prejuízo de quem e de que ideias políticas?

Da Livre espera-se que cresça  em detrimento do BE que depois de uma aventura de crescimento (à custa do PC) se vê agora confrontado por camaradas seus “iguais”. Vão ter que partilhar o pão e medir as ambições mútuas.

Da Iniciativa Liberal surge a vontade de “iniciar” uma luta ideológica (“contra o socialismo”, isto é contra o centrão político) que se pode alimentar do eleitorado do CDS, agora em estado de definhamento, após hesitações de anos sobre o posicionamento “popular” ou “democrata-cristão” – sentimento pouco perceptível na narrativa política apresentada.

Do Chega aparece a “afirmação” de um crescimento contínuo baseado num extremar de argumentos que, com acesso à arena mediática (agora garantida), arregimentará eleitores sedentos de argumentos simples e práticos que só os populistas saberão desenhar.

Estão plantadas as sementes de muitas mudanças, neste país até agora calmo e plantado à beira mar. E provavelmente a discussão política poderá ter que abandonar “a ditadura do economicamente correcto”, pois serão reforçados discursos de “abandono da Europa” (Neste clube cabem agora além do PC e BE, o Livre e o Chega), enquanto os partidos do centro (PSD e PS) terão que encontrar argumentos políticos e ideológicos novos para defender o país na Comunidade Europeia.

Estarão o PSD e o PS preparados para refundar a sua narrativa política na defesa da Europa contra os argumentos simples e retóricos de quem a contesta quer na direita quer na esquerda? O discurso economicista será suficiente para criar consensos na sociedade portuguesa sobre a aventura europeia?

Será possível aos dois maiores partidos explicar aos eleitores que a pertença e o sentido desta pertença tem se ser sobretudo uma opção cultural e civilizacional?

É provável que as tensões sociais verificadas por exemplo na França e na Inglaterra passem a ter representantes em terras lusas, e nos vejamos perante um novo modelo de análise política que abandonando a dicotomia direita-esquerda, e passando pelas lamentáveis “questões estruturantes” que vão ser sublinhadas por BE, Livre e Chega, nos coloque numa Torre de Babel, caso PSD e PS não apresentem uma leitura para a realidade política portuguesa e onde se descortine objectivamente o que pretendem fazer para lutar contra a pobreza no nosso país (metade dos portugueses estão isentos de IRS por serem remunerados miseravelmente).

Nenhum governo aguenta a revolta dos pobres. Com o extremar de posições na AR, imaginem se os pobres de facto decidem tomar partido!

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