A prostituição como doença da humanidade

O Papa Francisco reconhece as feridas de Cristo nas mulheres vítimas do tráfico humano e que foram levadas à prostituição.

A garota de 12 anos, Glyzelle Palomar, chorou ao perguntar ao papa em sua visita a Filipinas em 2015: 'Muitas crianças se envolvem em drogas e prostituição. Por que Deus permite que essas coisas aconteçam conosco? '

A menina de 12 anos, Glyzelle Palomar, chorou ao perguntar ao papa na sua visita às Filipinas em 2015: ‘Muitas crianças se envolvem em drogas e prostituição. Por que Deus permite que essas coisas aconteçam conosco? ‘ (AFP)

 

A prostituição é uma “doença da humanidade”, estimou o papa Francisco no prefácio de um livro, no qual se refere a “um vício repugnante” que reduz as mulheres a escravas. “Qualquer forma de prostituição é uma redução à escravidão, um ato criminoso, um vício repugnante que confunde fazer amor com os instintos de alguém torturando uma mulher sem defesa”, segundo um texto publicado no jornal italiano La Repubblica.

“Ninguém pode ser colocado à venda”, denuncia no prólogo de um livro do padre Aldo Buonaiuto, sacerdote da Comunidade Papa João XXIII, uma associação de caridade católica que acolhe pobres, prostitutas e adolescentes problemáticos.

“É uma doença da humanidade, um modo equivocado de pensar a sociedade. Libertar esses pobres escravos é um gesto de misericórdia e um dever para todos os homens de boa vontade. O seu grito de dor não pode deixar indiferentes os indivíduos e instituições”, adverte Francisco. “Ninguém deve olhar para o outro lado ou lavar as mãos do sangue inocente derramado nas ruas do mundo”, conclui o soberano pontífice.

O papa também relata que visitou um abrigo da Comunidade Papa João XXIII para encontrar mulheres “crucificadas”. Ele explica que pediu desculpas “pela tortura que tiveram que suportar por causa de clientes, muitos dos quais se definem como cristãos”.

Leia o prefácio escrito por Francisco:

Quando numa das Sextas-feiras da Misericórdia, durante o Ano Santo Extraordinário (12 de agosto de 2016), entrei na casa de acolhimento da Comunidade Papa João XXIII (na região metropolitana de Roma), não pensei que lá dentro iria encontrar mulheres tão humilhadas, debilitadas, exaustas.

Realmente mulheres crucificadas. Na sala em que encontrei as jovens libertadas do tráfico da prostituição coagida (da Romênia, Albânia, Nigéria, Tunísia, Itália, Ucrânia), respirei toda a dor, a injustiça e o efeito da subjugação. Uma oportunidade para reviver as feridas de Cristo.

Depois de ter escutado as narrações comoventes e humaníssimas destas pobres mulheres, algumas delas com o filho nos braços, senti um forte desejo, quase exigência, de lhes pedir perdão pelas autênticas torturas que tiveram de suportar por causa dos clientes, muitos dos quais se definiam cristãos. Mais um incentivo para rezar pelo acolhimento das vítimas do tráfico da prostituição forçada e da violência.

Uma pessoa nunca pode ser posta à venda. Por isso, estou feliz por poder dar a conhecer a obra preciosa e corajosa de socorro e reabilitação que o Pe. Aldo Buonaiuto (autor do livro) realiza há muitos anos, seguindo o carisma de Oreste Benzi (sacerdote fundador da Comunidade Papa João XXIII). Isto inclui também a disponibilidade para se expor aos perigos e às retaliações da criminalidade que destas jovens fez uma inesgotável fonte de lucros ilícitos e vergonhosos.

Gostaria que este livro encontrasse escuta no mais amplo contexto possível, a fim de que, conhecendo as histórias que estão por trás dos números perturbadores do tráfico, se possa compreender que sem deter uma tão alta solicitação dos clientes, não se poderá eficazmente obstruir a exploração e a humilhação de vidas inocentes.

A corrupção é uma doença que não se detém por si só, é necessária uma tomada de consciência a nível individual e coletivo, inclusive como Igreja, para ajudar verdadeiramente estas nossas desafortunadas irmãs, e para impedir que a iniquidade do mundo recaia sobre as criaturas mais frágeis e indefesas. Qualquer forma de prostituição é uma redução à escravidão, um ato criminal, um vício repugnante que confunde o fazer o amor com o descarregar os próprios instintos torturante uma mulher indefesa.

É uma ferida na consciência colectiva, um desvio ao imaginário corrente. É patológica a mentalidade pela qual uma mulher é explorada como se fosse uma mercadoria a usar e depois lançar fora. É uma doença da humanidade, uma maneira errada de pensar da sociedade.

Libertar estas pobres escravas é um gesto de misericórdia e um dever para todos os seres humanos de boa vontade. O seu grito de dor não pode deixar indiferente nem os indivíduos nem as instituições. Nenhum deve voltar as costas ou lavar as mãos do sangue inocente que é derramado nas estradas do mundo.

O prefácio original foi publicado pela Ed. Rubbettino.

AFP/ Ed. Rubbettino/DomTotal

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