IPSS – ensinar a pescar, no terreno do pobre

Por vezes fico inibida em dar a minha opinião neste mundo dominado por tantos técnicos e profissionais de intervenção social. Hoje em dia tudo se delega à especialidade, verdade que certas áreas nem poderia ser de outra forma.. Mas… Solidariedade? Pobreza?

Assuntos que avassalam a vida de muitas pessoas, uns por isto ou por aquilo, mas sobretudo para todos aqueles que não nasceram em berço de prata ou ouro, ou seja, todos aqueles que na sua maioria nasceram em berço de palha.

Importa salientar que a pobreza é originada pela falta dos direitos aos recursos essenciais que a existência impõe consequência que desde a nascença marca o pobre. O um facto inegável, as exceções pouco importam.

Acredito que muitos procurem intervir ou procurem soluções de corpo e alma, querendo ajudar com critério e entrega à causa. Não há como. Não! O Mal da pobreza no século XXI deve ser abordado na raiz do problema.

Depois de tantos séculos a experienciar as desigualdades de oportunidades e os abusos de interesses, consegue-se muito bem perceber que a pobreza não é uma fatalidade mas sim um meio oportuno de continuar a implementar as riquezas. Ao querer continuar a tapar o sol com a peneira criando meio alternativos e institucionalizados é algo que só empata a realidade e atrasa a necessidade de boas práticas.

A Pobreza orientada nos métodos institucionais, muito bem intencionados que sejam, perdem-se nas malhas do sistema social, permitindo que a pobreza continue a fazer parte da maior injustiça social. A visão da autoestima do pobre é algo pouco relevante no contexto da pobreza pura e nua a que precisa mesmo de ajuda.

Há que ter em conta que nem todos os pobres e necessitados, são incapazes de perceber as suas poucas sortes, a vida do pobre ultrapassa a questão do amor próprio beliscado. A maioria. Embora nesta fase esteja a surgir outro tipo de pobreza. Uma outra categoria e origem, quem sabe mais adequada aos métodos institucionais.

As instituições, incluindo os IEFP e os Poderes Locais, habituaram-se a criar sistemas contributivos que não passam de remendos, cujas emendas se fazem em pano reaproveitado sem tratamento personalizado e o pior sem critério de sustentabilidade. Pequenas soluções provisórias, ou nem isso, ainda pior, sujeitas às condições de uma malha despersonalizada nas competências dos deveres e direitos das pessoas. Cursos profissionais que para nada servem, empresas de inserção social que nunca vingam, rendimentos mínimos garantidos repletos de causas e obrigações pouco lógicas para o público a quem se destina.

Uma sociedade organizada e de pensamento progressista não pode de um todo continuar nos trilhos da hipocrisia na trama das prestações de serviços à solidariedade que absorve biliões e biliões de Euros em assistencialismos que dava para milhares de pobres viverem dignamente. Pois!

“ O ensinar a pescar”… o problema é que quem ensina não vive de pés descalços e nem sabe pescar no terreno do pobre. O “dar a cana”… para que lhe serve a cana se nem no rio nem no mar encontra peixe.
É fácil demais contestar, difícil é encontrar alternativas consistentes que se possam por em prática. Bem sei! No entanto constata-se que estamos cercados de más práticas. Para grandes males grandes curas, sem uma atitude de mudança profunda da parte de todos aqueles que se dizem inquietos com a Pobreza, esta risca de continuar instalada como se de uma normalidade se trata-se.

Os meios de intervenção institucionalizados até podem implementar novas estratégias, servindo de adubo para que a pobreza continue na canto da sua miserável redoma.
Para finalizar diria que a função das IPSS são fundamentais na engrenagem social. No entanto importa progredir acrescentando valores mais ajustados às necessidades dos seus utentes.

Maria Fernanda Calado, autora no Grupo Privado Sociedade Justa/Facebook

Todos querem uma sociedade justa. Nós lutamos por ela, Ajude-nos com a sua opinião. Se achar que merecemos o seu apoio ASSINE aqui a nossa publicação, decidindo o valor da sua contribuição anual.

Deixe uma resposta

*