Idosos – quero ficar na minha casa!

“Quero ficar na minha casa”- dizem os nossos idosos. Perante isto, como criar alternativas em tempo de pandemia para os mais velhos

Diz-nos a prática que o recurso às respostas sociais de Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário, é essencialmente realizado por aqueles que ainda têm alguma retaguarda familiar ou que se encontram sós mas mantêm autonomia para certas actividades de vida diária. Com a pandemia, os Centros de Dia encerraram e os idosos que frequentavam estes centros ficaram mais expostos a situações de risco.

O isolamento e a falta de apoio no domicílio a que os idosos estão votados, aumentado ao longo deste último ano, tende a provocar o agravamento do seu estado geral, constatando-se um acréscimo das suas limitações físicas e cognitivas. A promoção da funcionalidade física e cognitiva realizada nos Centros de Dia ao deixar de se realizar trouxe graves consequências para os seus frequentadores.

Estas limitações nos mais velhos, traduzem-se em má alimentação, risco de acidentes nas habitações, dificuldades na toma da medicação prescrita nos horários recomendados, maior vulnerabilidade à violência por se encontrarem sós, pois são vistos como alvo fácil. Por outro lado, a família passou a viver em constante apreensão, pelo facto de deixarem os seus idosos sem qualquer tipo de apoio enquanto se encontram nas suas atividades laborais.

O investimento numa resposta social de maior proximidade, promovida pelas IPSS’s que desenvolvem serviços no âmbito do Serviço de Apoio Domiciliário é uma primazia. Uma resposta social que não se fique pela distribuição de alimentação apenas na refeição principal do almoço e pelos cuidados de higiene pessoal apenas uma vez por dia. Um Serviço de Apoio Domiciliário dos “5 minutos”, não é de todo o que os idosos necessitam e merecem. Assim sendo, a reconfiguração e requalificação desta resposta é uma urgência, procurando abranger os idosos que deixaram de frequentar os Centros de Dia e por outro aumentar a qualidade do serviço prestado a todos os seus beneficiários. A pandemia associada ao confinamento exerceu um forte impacto nos idosos e veio exigir adaptações a respostas de vários níveis, de saúde e sociais e um maior envolvimento e responsabilização das IPSS’s.

O que é mais indispensável para estes idosos? Antes de tudo, assegurar um direito à palavra igual para todos idosos, famílias e prestadores do apoio, garantido o bem estar aos mais velhos e às suas famílias. Há necessidade de evitar acidentes em casa, por exemplo, com eletrodomésticos. Realizar adaptações ou pequenas reparações domésticas, detetar quedas e avisar os familiares, detetar mudanças comportamentais, garantir a adesão à terapêutica e evitar polimedicação, promover atividade para manter ou recuperar funcionalidade, procurar diminuir a sensação de medo, pelo facto de viver sozinho, informar e promover estilos de vida saudáveis.

A requalificação do Serviço de Apoio Domiciliário, deve aumentar a garantia do bem estar do utente, prestando um serviço diferenciador quer aos idosos quer aos seus familiares ou cuidadores. Alargar o tempo de apoio e o horário do mesmo, disponibilizando um serviço todos os dias da semana, disponível por 24 horas com acompanhamento noturno e com maior tempo de permanência no domicilio dos idosos.

O trabalho em parceria entre os Centros de Saúde e as IPSS, assim como a intervenção multidisciplinar é uma exigência e uma carência. Intervenção e apoio articulado com prestação dos serviços básicos de higiene e conforto pessoal, limpeza habitacional, fornecimento de refeição, tratamento de roupa pessoal, atividades de animação e socialização, associado a prestação de cuidados de saúde, como administração e supervisão da toma de medicação, apoio de enfermagem e de fisioterapia, apoio psicológico, terapias ocupacionais e de estímulo cognitivo.

A inovação do Serviço de Apoio Domiciliário, poderá responder às múltiplas necessidades da população idosa, não sendo meramente assistencialista, mas contribuir para uma melhoria efetiva da qualidade de vida. Por outro lado, esta resposta deve ser suficientemente flexível respondendo às necessidades dos utentes, acompanhando os idosos nas suas saídas ao exterior como nas idas ao médico, ou substituir um familiar no caso da ausência desta. O progressivo aumento da dependência, levam a uma maior necessidade de acompanhamento do idoso.

Na perspetiva de melhor servir e apoiar as pessoas idosas, em especial nos momentos de maior dificuldade para toda a sociedade origina o recurso a outras ferramentas e instrumentos tecnológicos. Na impossibilidade de os prestadores de cuidados permanecerem mais tempo no domicílio junto dos idosos, a implementação na casa de dispositivos para ativar ajuda, o uso de dispositivos de localização, mecanismos para despoletar alarmes e estabelecer redes de proximidade avaliar a toma de medicação através de software, assim como o seu uso para o estímulo e retardamento da perda de funcionalidades cognitivas e físicas.

A reconstrução de respostas de apoio à população idosa nas suas casas, de maior proximidade deve ser uma prioridade das politicas sociais permitindo serviços mais efetivos e adaptado às situações pessoais dos idosos e das suas famílias com concertação entre a área social e da saúde e com o recurso às novas tecnologias.

Permitir aos idosos a escolha do local onde querem viver…se a opção é permanecer nas suas casas, no ambiente e contexto familiar, esse direito deverá ser garantido com a garantia de um fim de história de vida com qualidade e bem estar.

Ana Cristina Alves Ferreira,  Social Worker na empresa Clinica de Hemodiálise de Felgueiras, Diretora Técnica das Respostas Sociais da 3.ª Idade na Santa Casa da Misericórdia de Felgueiras e Professor Assistente Convidado no Instituto Politécnico do Porto

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