O beijo que te dei!

O beijo que te dei! E agora o presidente da federação espanhola de futebol vai demitir-se, debaixo de um mar de críticas, por ter “beijado sem consentimento” uma jogadora da seleção feminina nos festejos da conquista do título mundial.

Do beijo do afecto ao beijo do domínio

A censura geral do acto presidencial baseia-se na tese do “beijo como sinal de poder” e por isso abusivo mas também inapropriado por não ter sido “consentido”. O acto público foi assim interpretado como irregular face às normas conviviais na sociedade europeia.

A história do beijo

O beijo afetuoso (boca a boca) foi descrito pela primeira vez no épico hindu Mahabharata. O antropólogo Vaughn Bryant argumenta que o beijo se espalhou da Índia para a Europa depois que Alexandre, o Grande conquistou partes do Punjab no norte da Índia em 326 a.C

Está documentado na antiga Mesopotâmia — atual Iraque e Síria — desde pelo menos 2500 a.C.. Isso significa basicamente que a história registada do beijo romântico-sexual é muito antiga.

Por que nos beijamos?

Antropólogos evolucionistas sugerem que o beijo na boca evoluiu para avaliar a adequação de um parceiro em potencial, por meio de sinais químicos transmitidos na saliva ou na respiração.

Outros propósitos sugeridos para o beijo incluem provocar sentimentos de apego e facilitar a excitação sexual.

O beijo na boca também é observado entre nossos parentes vivos mais próximos, os chimpanzés. Isso sugere que o comportamento pode ser muito mais antigo do que as primeiras evidências atuais em humanos.

A população na antiga Mesopotâmia pode ter inventado a escrita, embora a sua invenção no antigo Egito também tenha sido mais ou menos contemporânea.

A escritura mesopotâmica mais antiga é de cerca de 3.200 a.C., da cidade de Uruk, agora no sul do Iraque.

Essa escrita, chamada cuneiforme, era inscrita em tabuletas de argila úmida com o auxílio de estiletes de bambu em forma de cunha.

Originalmente, a escrita era usada para fazer anotações em sumério, uma língua sem relação conhecida com nenhuma outra.

Mais tarde, foi adaptada para escrever em acádio, uma antiga língua semítica.

Embora os primeiros textos que encontramos estejam principalmente ligados a práticas administrativas e reflitam amplamente a mecânica da burocracia, as pessoas desenvolveram esse modo de escrita nos séculos subsequentes para incluir outros gêneros de textos.

Na primeira metade do terceiro milênio antes de Cristo, mitos e feitiços se materializam nesses textos e, mais tarde, em documentos privados sobre pessoas comuns.

Algumas das fontes mais antigas que mencionam o beijo na boca podem ser encontradas em textos mitológicos sobre atos dos deuses que datam de aproximadamente 2.500 a.C..

Primeiros registos

Num dos exemplos mais antigos, descrito no chamado Cilindro de Barton, um artefato de argila da Mesopotâmia com inscrições cuneiformes, diz-se que duas divindades tiveram relações sexuais e se beijaram: “… com a deusa Ninhursag, ele teve relações sexuais. Ele a beijou. E preencheuo seu ventre com o sémen de sete gêmeos”.

Fontes posteriores, como provérbios, um diálogo erótico entre um homem e uma mulher e um texto jurídico, dão a impressão geral de que beijar no contexto do sexo, da família e da amizade era provavelmente uma parte comum da vida quotidiana em áreas centrais do antigo Oriente Médio, do final do terceiro milénio antes de Cristo em diante.

Único ponto de origem ou não ?

Evidências sugerem que o beijo na boca era praticado pelo menos no antigo Oriente Médio e na Índia. Isso se contrapõe a observações prévias sobre a história mais antiga de beijo da humanidade.

Um manuscrito da Índia datado de cerca de 1.500 a.C., por exemplo, foi usado anteriormente para sugerir que o beijo foi trazido para o ocidente como uma prática cultural de lá. As evidências mais antigas da Mesopotâmia indicam que podemos descartar esse cenário.

Um estudo antropológico recente mostrou que o beijo romântico-sexual não é universal.

No entanto, existe documentação escrita antiga sugerindo uma tendência para a sua prática em sociedades com hierarquias sociais complexas.

Isso levanta uma questão sobre o quão amplamente usado era o beijo sexual no mundo antigo, especialmente em sociedades que não podem ser rastreadas porque não usavam a escrita.

Embora algumas sociedades possam não ter praticado o beijo romântico-sexual, argumentamos que ele devia ser conhecido na maioria das culturas antigas, devido a contactos culturais, por exemplo.

Mas se pesquisas futuras mostrarem que o beijo na boca não pode ser considerado quase universal no mundo antigo, será interessante considerar as razões pelas quais essa não era uma prática comum.

Surpreendentemente, a história e a cultura do beijo são complexas, com muitos aspectos ainda a serem revelados.

Sabendo isto por que será que Rubiales se meteu na “encrenca” do beijo, em pleno século XXI?

O beijo que te dei

 

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