Os “ismos” sejam eles qual forem ajudam-nos na discussão política, ou constitutem barreias atrás das quais se fundamentam posições que não admitem discussão? Para Jorge Fernandos dos Santos “não importa a ideologia, nenhum regime ou discurso totalitário deveria ser tolerado”
Discriminados na Rússia desde a era dos Czares, os judeus continuaram sendo perseguidos pelos bolcheviques após a revolução de 1917. Cerca de 200 mil foram mortos durante da Guerra Civil, segundo estatísticas. Lenin chegou a discursar em defesa deles, mas orientou para que fossem enviados às frentes de batalha e que jamais ocupassem posições administrativas.
Anos depois, o regime stalinista tentou criar um estado judeu na Crimeia e na Sibéria, mas desistiu do projeto. Em 1948, lançou a campanha contra “os cosmopolitas sem raízes”. Vários artistas e autores de literatura iídiche foram mortos ou presos. Além dos judeus, outros povos foram perseguidos na antiga União Soviética. Prova disso foi o Holodomor, termo que significa “deixar morrer de fome”.
A partir de 1932, a retirada dos suprimentos de grãos da Ucrânia a mando de Moscovo resultou na morte de quase 5 milhões de pessoas de todas as idades. Cadáveres se amontoaram nas ruas e nos campos, outrora cobertos de plantações de trigo. O tema é abordado no impactante filme “A sombra de Stálin”, em cartaz na Netflix.
Na Polónia e na China
Vale lembrar que foi o pacto Molotov-Ribbentrop que permitiu a ocupação da Polónia pelos alemães, em 1939. Stalin se juntou aos aliados na guerra ao nazifascismo somente depois de ser traído por Hitler, que ordenou a invasão da Rússia. Após a rendição do reich aos soviéticos, em 1945, Berlim ficou isolada e a população só não morreu de fome graças à ajuda dos americanos, que jogavam comida e remédios de paraquedas.
No final da guerra, milhares de poloneses reagiram à ocupação alemã na certeza de serem ajudados pelos russos. Todavia, sob ordens de Stalin, as tropas vermelhas aguardaram o desfecho dos combates, o que permitiu a morte de nacionalistas que poderiam oferecer resistência à ocupação do seu território. Passada a guerra, a Polónia se tornou satélite da União Soviética. Depois de décadas de repressão e de lutas, a constituição polaca baniu os partidos nazista e comunista, cujos símbolos são proibidos no país.
Enquanto isso, na China, os hans representam 95% da população e seu poder predomina sobre dezenas de outras etnias desde a revolução comunista que levou Mao Tsé-Tung ao poder. A etnia mais reprimida é a dos uigures, de religião muçulmana. A ONU estima que mais de 1 milhão deles estejam detidos em campos secretos no oeste chinês, representando cerca de 10% da população minoritária.
O governo define os campos de concentração como “centros de educação vocacional”, cujo objetivo seria afastar os cidadãos do terrorismo e reintegrá-los à sociedade. Contudo, a maioria das detenções é motivada pela prática religiosa. O simples uso de véu ou de barba comprida acende o sinal de alerta dos agentes governamentais.
No Camboja e em Cuba
Na repressão aos uigures, o PC chinês usa um sistema amplo de tecnologia da informação. Hackers a serviço do governo invadem celulares, para gravar ligações, exportar fotos e localizar conversas em aplicativos de mensagens. Outra técnica consiste no reconhecimento facial por meio do sistema integrado de câmeras de vigilância controlado por inteligência artificial. O controle também é feito por meio de exames de DNA.
Outros episódios, em diferentes partes do mundo, comprovam que o comunismo nunca foi um mar de rosas. Não podemos esquecer, por exemplo, a violência do Quemer Vermelho, que assassinou mais de 2 milhões de pessoas de diferentes etnias, no Camboja; ou a Isla de La Juventud, para onde o regime castrista enviava os gays cubanos para serem “reeducados” no início da revolução.
Segundo o economista Ludwig von Mises, membro da Escola Austríaca, 17 dos 25 pontos do nazismo foram inspirados no socialismo. Pontos como a estatização da economia, a centralização do poder nas mãos de um único partido e o controle da informação pelo Estado. Antes de se chamar Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, a agremiação tinha o nome de Partido Socialista Alemão. Por essas e outras, não importa a ideologia, nenhum regime ou discurso totalitário deveria ser tolerado.
Por Jorge Fernando dos Santos -, escritor e compositor, tem 46 livros publicados. Entre eles, Palmeira Seca (Prêmio Guimarães Rosa 1989), Alguém tem que ficar no gol (finalista do Prêmio Jabuti 2014), Vandré – O homem que disse não (finalista do Prêmio APCA 2015), A Turma da Savassi e Condomínio Solidão (menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte 2012). Original: DomTotal.com
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