A morte é o maior dos dramas da existência. Indiscutivelmente, todos nós iremos nos defrontar com ela: é o limite último de nosso existir nesse mundo. Mesmo sabendo que é um condicionamento certeiro, ela continua a ser um drama para nós.
Todas as experiências que fizemos, até então, com o morrer, são aquelas rupturas (dolorosas e espantosas) com os que amamos, com os que conhecemos, com os que ouvimos dizer. Nós, mesmos, experimentaremos esse ato derradeiro uma única vez.
Todos e todas temos sede do infinito. A morte e o morrer são dramáticos porque são o sinal mais efetivo e radical de nossa finitude. Quando alguém que amamos morre, sofremos duas vezes: pela ruptura da presença e pelo anúncio que essa ruptura traz, o de que nosso destino é o mesmo, sem sabermos quando e como. Apesar da dimensão dramática e angustiante, podemos crescer na consciência de que o inevitável não precisa, necessariamente, ser uma experiência esvaziada de sentido.
Por ser uma das temáticas mais latentes e fortes que acompanham toda pessoa humana, a morte e o morrer são tratados com bastante atenção pelas religiões. Cada uma à sua maneira contribui para ajudar os seus fiéis e adeptos a compreender a morte e o morrer, de modo a atribuir sentido para essa dramática experiência. E essas tentativas de atribuir sentido à morte e ao morrer acabam por jogar luz sobre o modo como a vida é vivida.
No calendário litúrgico católico, duas celebrações estão unidas de modo umbilical: trata-se da Festa de Todos os Santos e Santas de Deus, em 1º de novembro, e Fiéis Defuntos, no dia seguinte. Ambas apontam para o mistério da páscoa de Cristo: os que morreram na fé gozam da comunhão com Deus, revestidos por sua santidade. E, segundo cremos, os vínculos afetivos com os que aqui ainda permanecemos, não se rompem, pois nossa comunhão ultrapassa os limites de espaço e tempo.
No impedimento de se vivenciar a importante etapa do luto, com as práticas costumeiras de velório e ritos fúnebres, precisamos pensar como contribuir para que as pessoas possam vivenciar essa dor do luto, apesar dos condicionamentos de nosso tempo de pandemia.
Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião de DomTotal. É autor do livro de poemas ‘Imprevisto’ (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
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