Penso que precisamos de heróis e gatos. Ou melhor: Sejamos heróis. Quanto ao gato é para nos contagiar com o seu espírito irreverente em nome da sua inegociável liberdade. Para construir um herói, há que procurar um modelo, mas não serve qualquer herói. Isto porque heróis há muitos, o problema é o heroísmo que faltou a grande parte deles.
Então, para não ferir susceptibilidades políticas e afins, vamos tomar como modelo o Saint Martin Txiki, também conhecido por Saint Martinico, velha personagem da mitologia basca que tinha uma capacidade extraordinária para enganar os gigantes. conseguindo melhor as obras que eles tinham feito, já que lhes dizia que os imitara e eles, possuídos pela ira, destruíam as obras do Martinico e o milagre acontecia: destruídas ficavam melhores do que as obras dos gigantes.
Em nome da esperança de conseguir uma sociedade melhor para estes tempos da Idade Líquida, vamos enganar os gigantes construindo as obras que eles, na sua grandiosidade, não lhes interessa construir. Quais obras? Essas: pensar, ler, comparar, já agora escrever. Em nome do futuro, essa tela em branco que deve ser preenchida. A humanidade tem uma tendência desgraçada para preferir telas velhas e desbotadas, mas já vistas, fugindo das telas em branco, precisamente aquelas que permitem construir uma obra-prima.
Os heróis não encolhem os ombros, desafiam os gigantes, fazem melhor do que eles. Não sei porquê (e daí talvez saiba) penso que todos os seres da humanidade, (arraia-miúda na língua dos gigantes) devem cada vez mais pensar pela própria cabeça em vez de se deixar oprimir por pensamentos alheios.
Martinico, aconselhado pelo gato, foi construir a montanha do pensamento. Irritou os gigantes, que lhe destruíram a montanha, mas aconteceu o milagre: os fragmentos da montanha do pensamento, em voo livre, atingiram todos os seres humanos e eles, pensando por conta própria, escaparam à opressão dos gigantes.
Anda Tareco, vamos à procura de heróis.
Leonor Fernandes, autora em Grupo Privado Sociedade Justa
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