Tudo isto numa circunstância social e política marcada pelo crescente descrédito da democracia, o esgotamento dos cidadãos traduzido na abstenção eleitoral, e, sobretudo a falta de confiança dos leitores/telespectadores nos mediadores de informação (jornalistas e comentadores). Descrença que afecta numerosos jornalistas que normalmente abandonam a profissão depois de verificarem que as condições de exercício da profissão não se coadunam com o seu estatuto ético!

Os donos dos media e a indústria de comunicação

Uma notícia não é um produto que se vende e compra segundo os preços de um mercado mais ou menos favorável aos detentores dos grandes capitais e/ou aos seus desígnios ideológicos.

Contudo, as empresas jornalísticas são frequentemente tomadas por licitantes financeiros onde, a cada momento prevalecerá na maioria dos casos, o interesse do capital com mais ou menos decisão de quem paga e mais ou menos independência de quem dirige redacções. O ideal, todos o sabemos: encontrar investidores que conheçam o risco de capital e assumam que vale a pena apostar na independência das redacções.

É certo que apostar na independência das redações é o único caminho para o sucesso dos órgãos de comunicação. Mas isso só o entende quem pela indústria da informação se deixou formar.

Atentemos ao que tem acontecido com cada aquisição conhecida, normalmente seguida pelo desmantelamento do aparato industrial, reduzindo o número de jornalistas, favorecendo a tecnologia para produzir em quantidade sem fé ou lei, reduzindo o número de dias de investigação, muitas vezes atacando o conteúdo, na melhor das hipóteses instilando uma confusão de géneros jornalísticos – por vezes em competição com textos comerciais – ou mesmo peças de entertenimento seguido de promoção nas redes sociais.

Fazer jornalismo é caro, e é necessário muito dinheiro. Mas de onde tem vindo esse “perfume”? Uma análise aos últimos quarenta anos explica-nos que na base de investimento sempre existiu “razão política” ou mais precisamente “razão partidária” quer para investir quer para tratar da aniquilação de alguns títulos portugueses.

Mas também intervenção de vários governos, nem que tenha sido por “antecipação de receitas”! Quer isto dizer que o “investimento em jornalismo” está longe se ser inocente.

Fortalecer o poder dos media

Todos aceitamos que a informação jornalística é um (bem) comum. E como qualquer recurso comum, deve ser governado por uma comunidade de utilizadores que estabeleçam as regras de boa gestão e governação para não só protegê-lo, mas também garantir o desenvolvimento da sociedade.

Mas para garantir isto é necessário estabelecer caminhos de garantia de isenção do trabalho jornalístico, com a protecção do “estatuto de jornalista” que lhes garanta segurança no exercício de funções e o liberte do “preconceito censor” que o atemoriza e lhe faz esconder a “íntima audácia” que o anima quando abraça a profissão.

Jornalistas confiantes, sem medo, e seguros na sua profissão, fornecer-nos-ão informação que nos reconcilie com os jornais, rádios e televisões que temos.

O descalabro das redes

O perigo da “informação” das redes está na sua gramática original: O “redactor” tem o espaço de 145 palavras para “definir” a mensagem! Que melhor “escola de ditadores” poderíamos ter que esta que impedindo o relato, evita a explicação e obriga os “redactores” a “afirmarem” a sua posição.

Isto não é informação, isto não é novidade nenhuma, é apenas o mais recente hino ao berro colectivo, dado que ninguém escreve para informar mas para assinalar o que cada um “sabe”! Saberá?.

E é assim que verificamos que o espaço público se tornou caótico. Do seio deste caos terá de nascer a indústria do jornalismo do futuro que nos abra a janela da civilização e nos garanta a democracia – as duas primeiras vítimas da “fadiga da informação”.

Por Arnaldo Meireles