Obrigado nós, Padre Crespo

O Papa Francisco escolheu visitar o Bairro da Serafina e da Liberdade em Lisboa onde o padre Francisco Crespo dedicou a sua vida e vocação ao serviço de Deus, da sua fé e às pessoas que precisavam e necessitam da sua diponibilidade e compromisso. O percurso de vida do padre Crespo – como gostamos de chamar ao cónego da Sé de Lisboa – merece a nossa admiração atestada na obra que conhecemos e hoje ficou explicitamente apresentada nas suas primeiras motivações na apresentação feita ao Papa.

Obrigado nós, padre Francisco Crespo

________________________________________________________________________________

Santo Padre
Nesta hora de grande alegria e de coração agradecido gostaríamos de expressar a nossa profunda gratidão pelo honroso gesto de escolher a Paróquia e o Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, situados nos Bairros da Serafina e Liberdade, como um dos locais a serem visitados durante as Jornadas Mundiais da Juventude. A Sua presença entre nós enche os nossos corações de alegria e esperança.

Permita-me que me apresente.
Sou o Cónego Francisco Crespo, pároco há 45 anos. São a minha comunidade, a minha gente e por isso ouso afirmar que neste dia, esta população se revestiu de alegria imensa por se sentir acarinhada com a Sua presença entre nós.

Faz parte da cultura destes dois bairros, acolher bem, quem por bem chega até eles.

A Paróquia e o Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, nascem no mesmo ano de 1959, apenas com dois meses de intervalo. O primeiro pároco, o Padre José Gallea,  do Instituto Missionário da Consolata, intuiu desde do primeiro instante, que para evangelizar esta população teria que tocar a realidade concreta da sua gente, desprotegida de direitos e de meios essenciais para levarem uma vida digna e justa. Foi um obreiro da Caridade.

Ao despedir-se deixou-nos como seu testamento: “que a minha partida represente a evangélica decomposição do grão de trigo do qual brote uma espiga cheia de frutos”.

Num momento social conturbado, em 1977, ofereci-me para ser pároco na Paróquia de São Vicente de Paulo, onde antes os meus antecessores foram maltratados, tocado que estava com tanta manifestação de pobreza, mas sobretudo impressionado com o olhar triste e vazio dos idosos sentados nas ruas sem condições habitacionais e sem perspetivas de vida.

Abracei num “por Amor”, o meu lema de ordenação Sacerdotal, o campo de missão nestes Bairros, dando continuidade ao espírito do seu fundador que tem como missão, “A Caridade é Evangelizadora”. Onde há caridade aí habita Deus.

Não existe, outro lugar da caridade senão no concreto de cada pessoa, naquela que acolhemos em cada dia, ou por quem percorremos ruas para os olharmos com os olhos do coração, na sua originalidade, na sua situação, na sua história pessoal.

Foi neste sentido, que paulatinamente, com todo o esforço de uma comunidade de braços arregaçados, com ajuda de alguns benfeitores e apoios estatais, que fomos agregando múltiplas repostas sociais, para responder às necessidades populacionais nestes bairros de periferia da cidade de Lisboa.

Hoje, o Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, tem uma estrutura, com capacidade para atender na globalidade 790 utentes e dando trabalho a mais de 170 funcionários, com as seguintes respostas sociais:
 Berçário e Creche
 Jardim de Infância
 Centro de Tempos Livres (CATL)
 Centro Juvenil
 Centro de Dia
 Serviço de Apoio Domiciliário
 Centro Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI)
 Lar Residencial para Idosos
 Apoio a famílias carenciadas
 Clínica de Fisioterapia

Houve mudanças visíveis na população e nas condições de vida, mas muito ainda há para fazer nesta encosta do Monsanto, sobretudo na melhoria habitacional, nos Centros Educativos, deslocados dos Bairros que dificultam um continuado acompanhamento do processo escolar pelas famílias, retirando o chão para um futuro com sentido, de muitas crianças e jovens.

Trabalhamos com poucos recursos, mas enriquecidos pela força do Evangelho que nos envia a levar a boa nova aos pobres. Caminhamos vigilantes, na promoção de uma dimensão profética do amor…do por Amor para cada pessoa, que se torna anúncio evangélico, ao serviço de uma cultura do cuidado, sem retirar o pouco ou o muito que cada um pode acrescentar no sentido de se sentir útil e integrado na comunidade.

Gosto de aplicar à paróquia de São Vicente de Paulo a expressão de São João XXIII: “A paróquia é o fontanário da aldeia onde todos vão beber”. Representada no nosso fontanário da entrada. Aqui crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, famílias, todos, podem encontrar um pouco de água para a sua sede, criando redes de comunicação para combater a solidão, fazendo com que as várias gerações se cruzem alentando-se e crescendo de forma bem ajustada na construção de uma Igreja viva, renovada através da cultura do encontro e do cuidado da vida, em todas
as suas etapas.

Trabalhamos cada dia por uma paróquia como espaço fraterno de humanidade, de caridade e de compaixão fraterna. O CSPSVP é um bem não só para os
crentes, mas para todos, mesmo não crentes.

Temos como Padroeiro São Vicente de Paulo, o apóstolo da Caridade e imitá-lo tira-nos da nossa zona de conforto, embaralha a nossa mentalidade egoísta e
centrada em nós. São Vicente de Paulo mexe connosco. Ele inspira-nos a reinventar a Caridade, a organizar a proximidade, a investir na formação, a dar tempo e espaço aos mais frágeis, a fazer nossos os seus pensamentos e dificuldades.

Este homem prático, realista, ousava dizer: “Amemos a Deus, meus irmãos, amemos a Deus, mas que seja à custa dos nossos braços, que seja com o suor
do nosso rosto.”

O Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo vincula-se na Paróquia porque nasce do confronto com a Palavra de Deus de levar o Evangelho aos mais
pobres.

Temos como lema das JMJ “Maria saiu apressadamente”. Que esta seja a hora de graça que nos alente numa pressa boa, e a exemplo de Maria levemos
alegria a todos.

Mais uma vez, gostaríamos de expressar a nossa gratidão mais profunda à Vossa Santidade por ter escolhido estar entre nós.

Que Deus o abençoe ricamente na sua missão de guiar e cuidar do rebanho, e que o seu exemplo de humildade e serviço continue a inspirar-nos a todos nós.
Muito Obrigado!

Padre Francisco Crespo

________________________________________________________________________________

Padre Crespo: Estamos mal, mas como eu estão 3500 IPSS em Portugal

O cónego Francisco Crespo, responsável pelo centro social da Serafina, em Lisboa, que recebeu o Papa no âmbito das Jornadas Mundiais da Juventude lamentou a ausência de apoios do Estado para resolver “situações gravíssimas” que se vivem naquele bairro, como a necessidade de requalificar habitações. Em declarações à Lusa editadas pela RR Francisco Crespo sublinhou que nesta luta diária “ninguém pode desanimar”.

“Há muita coisa para fazer. Há casas que precisam de ser renovadas totalmente e não temos tido até agora resposta da parte da autarquia e da parte do Governo para poder dar melhores condições àqueles habitantes”, afirmou, em conferência de imprensa, Francisco Crespo.

O pároco de São Vicente de Paulo afirmou também que aquela zona da cidade precisa de ter uma resposta escolar, “pelo menos para o 1.º ciclo” do ensino básico, porque as crianças têm de apanhar um autocarro às 7h00 para irem para outra escola”.

Segundo o responsável, os apoios são muito poucos em relação aos gastos.

“Vivemos situações gravíssimas (…) Penso que há mais de 3.500 instituições espalhadas por este Portugal que estarão nas mesmas situações em que eu estou”, lamentou.

Pároco de São Vicente de Paulo, Francisco Crespo recordou o seu percurso naquele bairro desde 1977, ano em que se ofereceu para trabalhar junto daquela comunidade, tendo consciência que “não seria ser fácil”.

Atualmente, o lar para pessoas dependentes do centro dá resposta a 100 idosos.

O centro social, disse, atende diariamente 920 pessoas com 1.200 refeições.

A visita do Papa “é uma graça extraordinária que eu nunca, nunca na minha vida, imaginei” ser possível, referiu.

Com diversas valências, apoiando desde crianças a idosos, o Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, no Bairro da Liberdade, foi construído gradualmente pelas mãos do cónego Francisco Crespo para responder às necessidades dos bairros da Liberdade e da Serafina, na freguesia de Campolide.

As necessidades da população fizeram crescer a oferta de apoios sociais, nomeadamente um jardim de infância, um centro de Atividades de Tempos Livres (ATL), um movimento juvenil, uma resposta de acolhimento de deficientes adultos e um lar para idosos dependentes, apoiando mais de 500 pessoas diariamente, a que acresce a disponibilização de fisioterapia e ajuda às famílias mais carenciadas, através do Banco Alimentar.

A última obra do Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo foi a igreja, que o pároco quis que apenas fosse edificada após estarem assegurados os apoios sociais à população.

Inaugurada em 2000, com capacidade para acolher até 500 pessoas, a igreja deverá ser o local onde o Papa Francisco fará o seu discurso durante a visita à instituição, na sexta-feira, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

________________________________________________________________________________

Texto e Foto in: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2023/08/03/responsavel-pelo-centro-social-da-serafina-lamenta-falta-de-apoios-do-estado/341561/.

__________________________________________

Papa na Serafina: Sujar as mãos para limpar o coração

Opapa Francisco visitou o Centro Paroquial de Serafina – em Lisboa –  onde teve um encontro com os representantes e membros de alguns centros de assistência, caridade e solidariedade social. A visita do Papa à obra promovida pelo padre Francisco Crespo

VEJA o texto completo pronunciado pelo papa Francisco:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

É bom estarmos aqui juntos, enquanto, no contexto da Jornada Mundial da Juventude, olhamos para a Virgem Maria que Se levanta para ir ajudar. A caridade é a origem e a meta do caminho cristão, e a vossa presença, realidade concreta de “amor em ação”, ajuda-nos a não esquecer a rota, o sentido daquilo que estamos fazendo sempre. Obrigado pelos seus testemunhos, dos quais quero destacar três aspetos: fazer juntos o bem, agir no concreto e estar próximo dos mais frágeis.

Fazer juntos o bem

Primeiro, fazer juntos o bem. «Juntos» é a palavra-chave, que ouvi repetir muitas vezes nas intervenções. Viver, ajudar e amar juntos: jovens e adultos, sãos e doentes… juntos. O João disse-nos uma coisa muito importante: é preciso não se deixar «definir» pela doença, mas fazer dela parte viva do contributo que prestamos ao conjunto, à comunidade. É verdade! Não devemos deixar-nos «definir» pela doença ou pelos problemas, porque não somos uma doença nem um problema. Cada um de nós é um dom, um dom único com os seus limites, mas um dom, um dom precioso e sagrado para Deus, para a comunidade cristã e para a comunidade humana. Então, assim como somos, assim como somos, enriqueçamos o conjunto e deixemo-nos enriquecer pelo conjunto!

Agir no concreto

Segundo, agir no concreto. Também isto é importante. A Igreja não é um museu de arqueologia, mas – como nos recordava o padre Francisco, citando a São João XXIII – é «o antigo fontanário da aldeia que dá água às gerações de hoje, como a deu às do passado» (Homilia na Liturgia em Rito BizantinoEslavo em honra de São João Crisóstomo, 13/XI/1960). O fontanário serve para matar a sede das pessoas que chegam com o peso da viagem ou da vida e são concretização, portanto, atenção ao “aqui e agora”, como vocês já estão fazendo, com o cuidado nos detalhes e sentido prático, belas virtudes típicas do povo português.

São muitas as coisas que eu gostaria de dizer-lhes agora, mas acontece que meus óculos não estão funcionando e eu não consigo ler bem, por isso, vou dá-lo a vocês para que o publiquem depois, e não forçar a vista ou ler mal, isso não pode ser feito.

Não há amor abstracto

Eu só quero me deter agora em algo que não está escrito, mas está no espírito disso. O concreto. Não há amor abstrato, não existe, o amor platónico está em órbita, não está na realidade, o amor concreto, esse que suja as mãos. Cada um de nós pode perguntar o amor que eu sinto a todos os daqui, o que sinto aos demais, é concreto ou abstrato?

Quando eu dou a mão a uma pessoa necessitada, a um doente, a um marginalizado, depois de dar a mão, eu lavo em seguida para que não me contagie? Eu tenho nojo da pobreza, da pobreza dos demais? Busco sempre a vida destilada, essa que existe na minha fantasia, mas não existe na realidade?

Quantas vidas destiladas, inúteis, que passam pela vida sem deixar sua marca porque sua vida não tem peso. E aqui temos uma realidade que deixa uma marca, uma realidade de tantos anos, tantos anos, que está deixando uma marca que é uma inspiração para os outros. Não poderia existir uma Jornada Mundial da Juventude sem levar em conta essa realidade, porque isso também é juventude no sentido de que vocês geram continuamente uma nova vida, com a sua conduta, com o seu compromisso, com o fato de sujarem as mãos tocando a realidade da miséria dos outros, vocês estão gerando inspiração, estão gerando vida. Obrigado por isso, agradeço de todo o meu coração, continuem e não desanimem, e se desanimarem, tomem um copo de água e sigam adiante.


#papa

#catholic

#lisboa

Papa na Serafina: Sujar as mãos para limpar o coração

Todos querem uma sociedade justa. Nós lutamos por ela, Ajude-nos com a sua opinião. Se achar que merecemos o seu apoio ASSINE aqui a nossa publicação, decidindo o valor da sua contribuição anual.

Deixe um comentário

*