As redes sociais, instrumentalizadas em benefício da mentira e do ódio, são “uma bomba atómica invisível” diz Maria Ressa, Prémio Nobel da Paz para quem “A batalha para informar também é a dos cidadãos”
No seu último livro, a jornalista filipino-americana e vencedora do Prémio Nobel da Paz Maria Ressa desafia-nos: as redes sociais, instrumentalizadas em benefício da mentira e do ódio, são “uma bomba atômica invisível”. Para preservar o ecossistema de informações, vital para nossas democracias, todos têm, segundo ela, um papel a desempenhar.
Segundo Maria Ressa: Podemos falar de um momento existencial para os jornalistas. Vivenciamos o melhor e o pior. O melhor: a nossa missão nunca foi tão importante, por causa do surgimento de todas essas lideranças “iliberais”, de regimes fascistas, que descrevo no meu livro. Mas o pior, diz ela: Você pode, como eu, arriscar cento e três anos de prisão, só por fazer o seu trabalho.
Refere sobretudo que as plataformas tecnológicas, as redes sociais desorganizaram completamente o ecossistema mediático. Quando comecei nesta profissão, há trinta e sete anos, havia confiança na imprensa, as pessoas queriam ser informadas.
No jornalismo de agora – lembra – o sistema de “distribuição”, via redes sociais, não premeia a veracidade ou a qualidade da informação, mas sim a mentira, a raiva e o ódio. O que importa é a emoção. Este sistema valoriza particularmente o mau jornalismo, que vai clicar, em detrimento do bom jornalismo.
Preocupações de agora
A jornalista, prémio Nobel de 2021 salienta “curiosidades” que seriam isso se não fossem antes preocupações como: nas redes sociais a mentira espalha-se seis vezes mais rápido que os factos verificados.
Ora a conseuquência disto é que se não damos atenção aos factos (ao que aconteceu) também deixamos de ter verdade; se não temos mais verdade não vamos ter mais confiança.
Sem estes três elementos fundamentais deixamos de ter descrição da realidade compartilhada. Assim, como pode a sociedade funcionar se as pessoas não encontrarem a notícia dos factos?
Chegados aqui, sem uma realidade partilhada e conhecida como pode a sociedade resolver os seus problemas, entender-se sobre a liderança de um país? Como pode mesmo garantir-se a democracia sem informação?
A recompensa da mentira
Percebe-se que a mentira funciona e dá lucro dado que o sistema para isso aponta: As pessoas elegem autocratas democraticamente, a democracia recua, é como cair na toca do coelho em Alice no País das Maravilhas . As coisas parecem vagamente familiares, mas tudo está de cabeça para baixo e nada funciona… O desafio é consertar as coisas. O que inicialmente foi pensado para publicidade e marketing agora é usado pelo poder político.
Resistência dos jornalistas
Compete aos jornalistas aprender a linguagem da tecnologia que induz a uma forma completamente diferente de trabalhar, de pensar, de analisar: ao invés de construir significado, ela automatiza. Precisamos controlá-lo melhor.
Também precisamos de legislação para regulamentar as redes sociais. É crucial. As empresas de tecnologia dizem que querem proteger a liberdade de expressão? Está errado. Temos padrões rígidos para a construção de edifícios, por que não temos padrões para sistemas que manipulam nossos corações e mentes? É certo que a Europa avança nesta matéria, mas lentamente, como disse.
Sejamos claros: os jornalistas não conseguirão fazer isso sozinhos, também precisamos de compromisso cívico, forte apoio dos cidadãos. er a desinformação. Reuniu a mídia, instituições acadêmicas, advogados, igrejas, organizações de defesa dos direitos humanos, meio ambiente… Dividimos tudo e pudemos, juntos, nos proteger.
Todos querem uma sociedade justa. Nós lutamos por ela, Ajude-nos com a sua opinião. Se achar que merecemos o seu apoio ASSINE aqui a nossa publicação, decidindo o valor da sua contribuição anual.