Segundo Maria Ressa: Podemos falar de um momento existencial para os jornalistas. Vivenciamos o melhor e o pior. O melhor: a nossa missão nunca foi tão importante, por causa do surgimento de todas essas lideranças “iliberais”, de regimes fascistas, que descrevo no meu livro.  Mas o pior, diz ela: Você pode, como eu, arriscar cento e três anos de prisão, só por fazer o seu trabalho.

Refere sobretudo que as plataformas tecnológicas, as redes sociais desorganizaram completamente o ecossistema mediático. Quando comecei nesta profissão, há trinta e sete anos, havia confiança na imprensa, as pessoas queriam ser informadas.

No jornalismo de agora – lembra – o sistema de “distribuição”, via redes sociais, não premeia a veracidade ou a qualidade da informação, mas sim a mentira, a raiva e o ódio. O que importa é a emoção. Este sistema valoriza particularmente o mau jornalismo, que vai clicar, em detrimento do bom jornalismo.

Preocupações de agora

A jornalista, prémio Nobel de 2021 salienta “curiosidades” que seriam isso se não fossem antes preocupações como: nas redes sociais a mentira espalha-se seis vezes mais rápido que os factos verificados.

Ora a conseuquência disto é que se não damos atenção aos factos (ao que aconteceu) também deixamos de ter verdade; se não temos mais verdade não vamos ter mais confiança.

Sem estes três elementos fundamentais deixamos de ter descrição da realidade compartilhada. Assim, como pode a sociedade funcionar se as pessoas não encontrarem a notícia dos factos?

Chegados aqui, sem uma realidade partilhada e conhecida como pode a sociedade resolver os seus problemas, entender-se sobre a liderança de um país? Como pode mesmo garantir-se a democracia sem informação?

A recompensa da mentira

Percebe-se que a mentira funciona e dá lucro dado que o sistema para isso aponta: As pessoas elegem autocratas democraticamente, a democracia recua, é como cair na toca do coelho em Alice no País das Maravilhas . As coisas parecem vagamente familiares, mas tudo está de cabeça para baixo e nada funciona… O desafio é consertar as coisas. O que inicialmente foi pensado para publicidade e marketing agora é usado pelo poder político.

Resistência dos jornalistas

Compete aos jornalistas aprender a linguagem da tecnologia que induz a uma forma completamente diferente de trabalhar, de pensar, de analisar: ao invés de construir significado, ela automatiza. Precisamos controlá-lo melhor.

Também precisamos de legislação para regulamentar as redes sociais. É crucial. As empresas de tecnologia dizem que querem proteger a liberdade de expressão? Está errado. Temos padrões rígidos para a construção de edifícios, por que não temos padrões para sistemas que manipulam nossos corações e mentes? É certo que a Europa avança nesta matéria, mas lentamente, como disse.

Sejamos claros: os jornalistas não conseguirão fazer isso sozinhos, também precisamos de compromisso cívico, forte apoio dos cidadãos. er a desinformação. Reuniu a mídia, instituições acadêmicas, advogados, igrejas, organizações de defesa dos direitos humanos, meio ambiente… Dividimos tudo e pudemos, juntos, nos proteger.