A notícia de hoje do Jornal de Notícias revela uma situação real e mostra como a sociedade portuguesa reage perante as necessidades em situações de aflição e perante a insuficiência da oferta que lhe é disponibilizada em matéria de soluções residenciais para os nossos mais velhos.
Um número avassalador, o do fecho, mais ainda pior porque há muitos mais lares que deveriam estar fechados por não oferecerem condições de saúde, higiene e de segurança dos idosos – normalmente ali despejados para “alívio” de consciência ou por desespero de causa.
E isto acontece num momento em que as respostas existentes oferecem soluções de residência de alto nível de serviços e de excelente qualidade humana no atendimento nos lares e residências sobretudo do sector social, verificáveis em todo o território nacional.
Mas os números não enganam: a capacidade instalada é insuficiente e falta a quem governa a visão estrutural de enfrentar as necessidades actuais e verificar as consequências do envelhecimento da população e antecipar soluções de apoio aos novos idosos e sua famílias.
Mais do que enfrentar a realidade, mais parece que o poder público se entretém melhor a discutir a “pertença da resposta” – se pública, se social ou privada. Enquanto se atrasa assim na análise aumenta a dimensão do problema.
Todo a gente vê – quando despida de interesses partidários ou de capital – que a resposta conjunta dos três sectores deveria ser equacionada num plano de longo prazo, respeitador dos direitos da pessoa idosa em experimentar o fim da vida, em conforto e segurança. Mas ainda persiste a disputa por sector, num entretenimento que apenas atrasa a definição de uma política integrada para os idosos.
É certo que o capital trata disso para os clientes/idosos com dinheiro; mas aqueles a quem o dinheiro apena chega para a sobrevivência, enfrentam o desafio do inesperado que os coloca muitas vezes perante opções que sendo inadiáveis se manifestam impossíveis: experimentem saber como se faz a escolha entre comprar comida ou medicamentos!
Dizem os politólogos que a “terceira idade” é um activo político eleitoral com eficácia sobretudo ao centro. Que pena ser apenas em momentos eleitorais!
Mas esta é também uma oportunidade para que as organizações de acolhimento de idosos assumam a palavra para, defendendo os seus “utentes”, protegendo-os e tratando-os o melhor possível, esclarecer quem nos governa do muito que há para fazer em sede legislativa e protecção (até em sede de segurança!) de modo que este “activo social” não venha a ser confrontado com novas ameaças das quais apenas apontamos a mais recente: o egoísmo dos mais novos, indisponíveis para aceitar e/ou tolerar o envelhecimento da população portuguesa.
Por Arnaldo Meireles
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