A subjugação do feminino ao masculino

A distinção e a relação de forças entre sexos foi-se arrastando ao longo dos séculos e de toda a história da humanidade, prolongando-se até hoje e tendo o género masculino sido assumido como medida de todas as coisas.

Tal representação, herdada e alimentada, é tão perniciosa que se nos emerge envolta numa certa ideia de “universal neutro” , que a faz ganhar uma quase legitimidade divina e inquestionável quando na verdade o humano é feito delas e deles e não de um qualquer genérico imparcial e inocente, que se refere a eles.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos começou por ser do homem. Uns dirão que se trata de simbolismos inócuos, outros que se trata de simbolismos representativos de uma realidade desigual e dual.

Esta subjugação contínua do feminino, é muito evidente nos nossos tempos e ao nível das condições objetivas de vida, bastando para isso fazermos uma simples correlação entre os níveis de rendimentos auferidos por um e outro género.

As mulheres tendem a estar entre os mais pobres dos pobres, ganham menos e situam-se nos setores mais baixos da estrutura do emprego, logo estão menos capazes, ou melhor, são obrigadas, a exercerem uma cidadania plena.

Num mundo polarizado em que defender os direitos humanos é ser, para alguns conservadores e radicais setores da sociedade, extremista, vozes como a do Papa Francisco centram a questão no fundamental: No mundo atual ter uma parte da humanidade com acesso desigual a oportunidades de vida é desumano, não é cristão, é, em muitos casos, criminoso.

Não é, portanto, dispensável contornar as questões de género e de construção identitária ao encetar-se uma análise sobre a condição feminina, muito menos contornar as condições desiguais a que estão votadas as mulheres. Sendo que a construção identitária se faz por oposição a outrém, também a construção identitária feminina e masculina se foram fazendo num movimento contínuo de separação e individuação mas no âmbito de uma relação dual com o género oposto.

A questão é colocada de forma especialmente estética e sintética com Bauman quando aludindo ao modelo ideal de república refere “como alcançar a unidade na diferença e como preservar a diferença na unidade”.

Com a questão de género estamos perante o mesmo dilema. Segundo este autor a encarnação de uma construção identitária é algo mutável e dependente, mesmo negociável, de acordo com as trajetórias de vida assumidas e com as alternativas que se lhe forem deparando. Logo, este conceito de género e identidade estará em si mesmo interligado por relações de classe, por oportunidades, por contextos geográficos e ainda por espaços temporais.

O “ser mulher” está, porém, profundamente relacionado com a crença da existência de uma natureza feminina a qual dita a necessidade das mulheres cumprirem determinados papéis e os quais são ditados pela sociedade como modelos a percorrer. Quem deles se desvia, quem ousa quebrar o estereótipo que recai sobre si ou grupo corre o risco de sofrer um anátema. Os estereótipos cumprem assim o seu papel, condicionando as práticas sociais.

Autores há que defendem que homens e mulheres complementam-se, não sendo só diferentes. Um participa do outro. O que não significa que a luta de poderes é mera ficção. Ela existiu e existe, com diferentes tonalidades ao longo da história.

Mas entre o período do “patriarcado absoluto” em que “a mulher menor dependia do pai e a mulher adulta do marido” e em que o casamento servia como mecanismo de produção e reprodução desta ordem social e como o exemplo perfeito do poder absoluto de um sexo sobre o outro, vão longos anos. E como se vai fazendo este caminho em Portugal? Ficará para o próximo artigo ….

Marcos Taipa Ribeiro, autor Sociedade Justa, grupo privado Sociedade Justa no facebook

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